

Entre o excesso de estímulos e a pressa em crescer, a infância tem sido reduzida a um intervalo.
Esperamos que bebês se comportem como adultos e que crianças ajam como mini versões de nós mesmos.
Mas essa expectativa, aparentemente inofensiva, tem consequências profundas. Ela revela o quanto estamos acelerando o tempo da infância, substituindo o brincar pelo desempenho, e o desenvolvimento natural por padrões adultos de comportamento e aparência.
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Durante um voo recente, um comentário comum chamou a atenção: “Ela se comportou tão bem, nem parecia estar a bordo.”
A verdade? A criança dormiu. E foi por isso que não se fez ouvir.
Vivemos uma era em que o choro, o riso alto e a inquietude infantil, expressões legítimas do desenvolvimento, se tornaram incômodos.
Esperamos que crianças pequenas tenham autocontrole emocional que nem sempre os adultos conseguem sustentar.
Enquanto silenciamos os bebês, aceleramos a maturidade de quem ainda deveria brincar.
Meninas de oito ou nove anos já usam skincare, maquiagem e esmaltes, seguindo rotinas que pertencem a um outro tempo da vida.
Não se trata de condenar o cuidado, mas de refletir sobre o que ele representa: a pressa em parecer adulta e o medo precoce de não caber em padrões estéticos.
O maior problema não está nos cosméticos, nem nas discussões sobre puberdade precoce e disruptores endócrinos, temas ainda em investigação científica.
O que realmente preocupa é o roubo da infância: a substituição da espontaneidade pela performance, e da curiosidade natural pela necessidade de aprovação.
Essa aceleração emocional e estética pode gerar impactos na autoestima e na construção da identidade, principalmente entre meninas, que crescem associando valor à aparência e ao controle da própria imagem.
De forma quase cruel, essa mesma lógica nos acompanha na vida adulta.
Vemos mulheres jovens tentando congelar o tempo, buscando na estética a ilusão de uma permanência.
Como se houvesse apenas uma idade aceitável para existir — nem antes, nem depois.
Essa busca incessante por “não envelhecer” é o reflexo direto de uma infância que aprendeu cedo demais que o tempo é algo a ser combatido, não vivido.
O desenvolvimento humano é feito de transições. Cada fase tem sua beleza, sua função, seu aprendizado.
Pular etapas é perder partes da história que nos formam — e isso vale para o corpo, para a mente e para as emoções. Respeitar o tempo da infância é, também, proteger o adulto que ela vai se tornar.
Não é sobre skincare, nem sobre moda.
É sobre o tempo da vida e como, cada vez mais cedo, ensinamos meninas a temer o passar do tempo.
Você também sente que a infância tem sido encurtada demais?
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